Olá Colegas e Profª Renata...
Estava pesquisando algumas abordagens sobre "Consciência Corporal" na internet e acabei encontrando um texto muito legal, todos que forem lendo, deixem suas opiniões ou apenas comentário sobre a leitura.
Até logo, Du.
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Consciência corporal
O corpo ultrapassa as fronteiras das suas extremidades e atinge o alcance dos sentidos. Visão, audição e olfato, por exemplo, são sensores remotos que nos levam além da nossa presença, nos fazem ir adiante de nós mesmos.
Por J. Olímpio
A Fisioterapia a chama de propriocepção, isto é, a capacidade em reconhecer a localização dos membros, em relação ao resto do corpo, sem utilizar a visão ou - acrescento eu - do tato. Trata-se da nossa consciência corporal, da percepção dos nossos "limites" no espaço que ocupamos no universo.
Uma vez, numa consulta oftalmológica, uma charmosa (e cética) médica teimava em segurar minha pálpebra aberta, ao tentar me aplicar um colírio dilatador de pupilas. Avisei que não daria certo, que o reflexo muscular impediria a gota de acertar o alvo e que seria melhor ela me permitir abrir o olho sozinho. Várias tentativas frustradas depois, ela acabou vendo que eu tinha razão e disse: "- Puxa, você conhece bem o seu corpo, hein?!..."
Pois é, mas conhecer bem o próprio corpo passa por isso e muito mais. Pode-se dizer, até, que o corpo ultrapassa as fronteiras das suas extremidades e atinge o alcance dos sentidos. Visão, audição e olfato, por exemplo, são sensores remotos que nos levam além da nossa presença, nos fazem ir adiante de nós mesmos.
Isso me faz pensar nas pessoas limitadas física e mentalmente, no quanto elas (nós!) têm de se superar para seguir vivendo, convivendo, sobrevivendo. Aposto que não é a falta de um sentido ou de uma faculdade humana que determinará o êxito ou a sobrevivência de alguém. Mas, acredito que a ânsia da vida por si mesma - como diria Gibran, no seu livro O Profeta - é que vai impulsionando os indivíduos na direção certa.
Assim, a tal consciência corporal vai assumindo um caráter bem mais amplo, à medida que a identidade pessoal significa a união de corpo e mentalidade, matéria e ânimo, organismo e vontade. E, nada melhor do que se sentir integrado nessa duplicidade energética, na qual as forças todas se equilibram e colaboram para vencer tarefas, obstáculos, desafios. Tudo se enfeixa e harmoniza, numa razão transformadora.
O homem surgiu neste planeta para transformá-lo e, ao mesmo tempo, transformar-se. Transformar-se em um ser melhor aparelhado, mais apto (ainda que não o seja na origem), muito mais consciente da sua condição dominante da Terra.
E mais: nascemos para descobrir os meios e produzir as riquezas mais importantes para a preservação dessa nave-mãe Terra; tão valiosa quanto nossa alma humana. Muitas vezes, esse processo tem sido - ao longo da nossa história - desastroso, recorrente e crítico. O planeta tem sido devastado e isso traz reflexos à nossa própria noção de pertença a ele. Afinal, somos indivíduos imersos nesse ambiente. Autônomos, sim, mas nunca independentes dele.
Talvez, a maior prova de consciência corporal seja nos sentirmos integrados, incluídos radicalmente no sistema perfeito que rege a vida na nossa casa planetária. Quando conseguirmos obter dela o máximo, com um mínimo de prejuízo ambiental, também conseguiremos deixar de excluir os semelhantes; nossos companheiros de jornada pelo cosmos. Seremos espelhos uns dos outros, incapazes de agredir ou aniquilar a imagem que também nos pertence.
J. OlímpioParanaense, 47 anos, é roteirista, produtor multimídia e colunista da revista Sentidos. É cadeirante, com seqüela severa de poliomielite.
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